Escola Municipal José Anastácio Rodrigues
Repositório EMJAR
Bem-vindo ao Repositório da Escola Municipal José Anastácio Rodrigues, um espaço dedicado à preservar a memória e as histórias do Assentamento Campo Alegre e de nossa escola.
História do Assentamento Campo Alegre
O Assentamento Campo Alegre, localizado na Baixada Fluminense, entre os municípios de Nova Iguaçu e Queimados, é um marco na história das lutas por terra no estado do Rio de Janeiro. Sua origem remonta ao período colonial, quando a área integrava o Morgado de Marapicu, grande extensão de terras que, ao longo dos séculos, foi passando por diferentes proprietários, incluindo o Conde Modesto Leal e as Fazendas Reunidas Normandia, que as utilizaram principalmente para pecuária extensiva e especulação imobiliária. Na década de 1950, parte da região foi loteada, mas o empreendimento fracassou, deixando-a abandonada e vulnerável à grilagem.
No contexto da redemocratização do Brasil e do governo de Leonel Brizola (1983–1987), a questão agrária voltou ao centro do debate político. Foi nesse cenário que, na madrugada de 9 de janeiro de 1984, centenas de famílias – muitas delas compostas por trabalhadores que haviam migrado do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida, mas não encontraram estabilidade – ocuparam a área que viria a se tornar o Assentamento Campo Alegre. A ocupação foi articulada por lideranças históricas da luta pela terra, como Laerte Bastos, Bráulio Rodrigues e Chico Silva, e contou com o apoio fundamental da Diocese de Nova Iguaçu, sob a liderança de Dom Adriano Hypólito, que forneceu suporte pastoral, político e material por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A organização do assentamento se deu sob a forma de mutirão: as famílias trabalhavam coletivamente no desmatamento, na abertura de poços, na construção de barracas de lona e, posteriormente, de moradias mais sólidas. A área foi dividida em sete regionais – Acampamento, Mato Grosso, Capoeirão, Chapadão, Fazendinha, Terra Nova e Marapicu –, cada uma com coordenação própria e, mais tarde, com associações independentes. Essa estrutura refletia tanto a extensão territorial quanto a diversidade de perfis entre os ocupantes, que incluíam desde agricultores experientes até moradores urbanos em busca de um lugar para viver.
A violência foi uma constante desde os primeiros dias. Grileiros e supostos proprietários reagiam com ameaças, tentativas de despejo e até ações policiais repressivas. Apesar disso, a resistência se manteve firme, sustentada pela organização interna e pela solidariedade externa, especialmente da Igreja Católica e de setores urbanos sensibilizados pela causa.
Ao longo dos anos, tensões internas também surgiram, especialmente em torno da centralização do poder nas mãos de algumas lideranças, como João Bastos. Isso levou, em 1987, à criação de associações autônomas por regional e posteriormente à formação da UAMEA (União das Associações do Mutirão de Campo Alegre), que buscava articular demandas comuns e garantir maior representatividade.
Até os dias atuais, a regularização fundiária do assentamento permanece incompleta, com entraves burocráticos e disputas judiciais que dificultam a segurança na posse da terra e o acesso a políticas públicas. Mesmo assim, muitas famílias permanecem no local, resistindo através da agricultura de subsistência, do trabalho informal urbano e da manutenção de uma identidade coletiva forjada na luta.
O Assentamento Campo Alegre simboliza não apenas a resistência camponesa, mas também a complexa relação entre rural e urbano na Baixada Fluminense. Sua história é um testemunho da coragem de quem ousou ocupar a terra para nela viver e produzir, e da força das articulações entre movimentos sociais, Igreja e lideranças históricas em um momento crucial da história brasileira.

Quer saber mais?
Sugestões de Textos e Documentos sobre o Assentamento
Lígia Maria de Oliveira Nonato
UFRRJ - 2020
Marcio Pereira da Silva
UFRRJ - 2014
Álvaro Mendes Ferreira
UFRRJ - 2021
Leonardo Poubel da Silva Padua e Tarci Gomes Parajara
UFRRJ - 2015
Roberta de Souza Campos
UFRRJ - 2025
Claudia Patrícia de Oliveira Costa
UERJ - 2014
História de Nossa Escola
Escola Municipal José Anastácio Rodrigues, localizada no Assentamento Campo Alegre, na Baixada Fluminense, assentamento este que é marcado pelas lutas, resistência e a força de uma comunidade que, desde a ocupação da terra em 1984, transformou um espaço de abandono e conflito em um lugar de vida, trabalho e esperança.
Dessa trajetória de organização coletiva e coragem, nasceu não apenas um assentamento, mas também sonhos concretizados, entre eles, a Escola Municipal José Anastácio Rodrigues. Localizada na Rua Conquista, 121, no coração do Campo Alegre, em Queimados, essa escola é mais do que um equipamento
público: é um símbolo da luta comunitária por educação e dignidade. Construída pela própria comunidade, com suor e determinação, e posteriormente entregue à Prefeitura Municipal de Queimados, ela representa a materialização de um direito conquistado a duras penas.
Mergulhamos na memória e no presente dessa escola, que carrega em suas salas, pátios e paredes a voz de quem acreditou que, a partir da terra ocupada, seria possível semear também o futuro pelas mãos da
educação. Aqui, a história do assentamento se entrelaça com a da escola, duas conquistas que se alimentam da mesma raiz: a ousadia de lutar por um lugar no mundo.













































